FLOR DO LIXO.
João Dehon Fonseca
Linda! com a cara grudada,
Jovem, com apenas treze anos,
Fugindo da vida, ocultando seus planos
Vi catando lixo, bem maltratada,
Somando desgostos e colhendo danos
Talvez até, revoltada com o mundo,
Mas dentro da alma, bem no fundo,
Parecia alegre diante da vida,
Pois alimentava sua família sofrida;
Colhendo o pão do lixo imundo.
Olhei seu semblante e fiquei orgulhoso,
A jovem menina não chorava, ela ria,
Aquele suor do pão de cada dia,
Descia na face daquele rosto oleoso,
E ela vibrava, enquanto o saco enchia.
A cada caminhão, seu olhar mais fixo,
Misturando-se, com gente e com bicho,
Perguntei-lhe se gostava daquela vida.
Para mim não tem outra saída,
Respondeu-me bem sincera a Flor do Lixo.
Flor do Lixo, teu nome é Rosa,
Poderia ser Tulipa ou até Açucena,
Você foi batizada como Rosa Verbena,
Uma morena linda e mimosa,
Nascida nos prados da Borborema,
Carrega consigo um sentimento profundo,
E no corpo um vestido imundo,
Contrastando com essa sua beleza,
Flor do Lixo! Você tem porte de nobreza,
Paradoxo real desse nosso mundo.
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