"A descrição científica do macaco-prego-galego, em 2006, é um capítulo à parte, com direito a disputas e intrigas entre pesquisadores, na história da espécie, ameaçadíssima de extinção e restrita à porção de mata atlântica existente acima do Rio São Francisco. Uma equipe da Universidade Federal da Paraíba e do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB) se preparava, em abril, para batizar o animal quando foi surpreendida por um artigo na respeitada revista Zootaxa (veja abaixo). O texto, encabeçado pelo especialista em mamíferos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Rossano Mendes Pontes, dava o nome de Cebus queirozi ao bicho. Cebus porque esse é o gênero (primeiro termo de um nome científico) dos macacos-pregos e queirozi numa homenagem aos proprietários da Usina Ipojuca, localizada ao Sul do Grande Recife, onde Pontes e seus colaboradores encontraram o grupo de macacos-pregos-galegos usados na descrição científica. Usados, é bom que se saiba, apenas fotograficamente. Isso porque Rossano anestesiou os animais, fotografou, e os devolveu à mata. A equipe do CPB, encabeçada pelo biólogo Marcelo Marcelino Oliveira, e pelo prestigiado taxonomista Alfredo Langguth, da UFPB, não desistiu e em julho saiu com um artigo na revista Boletim do Museu Nacional do Rio de Janeiro (veja abaixo), menos reconhecida que a Zootaxa, dizendo que o macaco-prego-galego não era uma nova espécie e sim uma redescoberta. Mataram, como manda a taxonomia convencional, alguns animais para obter as peles, termo usado para denominar exemplares taxidermizados e depositados em coleções científicas. A redescoberta de um macaco registrado pelo naturalista alemão George Marcgrave, durante a ocupação holandesa no Nordeste, no século 17, e descrita por Johann Schreber em 1774, como Simia flavia. O fato é que a nomenclatura científica em voga desde o século 18 é a estabelecida pelo naturalista sueco Lineu (Carolus Lineu, 1707-1778) e não a de Schreber. Mesmo assim, o CPB e a UFPB insistem em redescoberta. Adaptaram o nome dado por Schreber às regras taxonômicas atuais e decidiram batizá-lo de Cebus flavius. É de se esperar que, à época, os dois grupos tenham trocado farpas, na busca pelo reconhecimento de autor da espécie. Afinal, não é todo dia que se descobre um primata. Aves e símios são, na verdade, grupos taxonômicos cada vez mais conhecidos e, portanto, menos pródigos em descobertas, ao contrário de invertebrados. Ninguém bateu, até hoje, o martelo em relação ao nome científico do macaco-galego. Na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), ele já figura como vulnerável à extinção. Na ficha do bicho, Cebus queirozi é apontado como um sinônimo júnior de Cebus flavius ou “como sugerem Oliveira e Langguth, uma espécie inválida.” O grupo do CPB e UFPB é ligado a nomes nacionais, como Mario de Vivo (Museu Nacional) e internacionais da primatologia/taxonomia, a exemplo de Anthony Rylands e Russell Mittermeier, vinculados à Conservation Internacional e à própria IUCN. Rossano é bem relacionado em Cambridge. Ou seja, dificilmente alguém vai bater o martelo forte o suficiente para, enfim, o prego-galego ser conhecido por um só nome no meio científico."
Parabéns pela matéria ;)
ResponderExcluirestou trabalhando na minha monografia com esta espécie! beijos!